Missão de reclamação. Seth.

Beautiful

Estava sentado no sodá dentro daquela casa, tinha uma sala ampla, talvez não tão grande naquele momento devido ao centauro parado ao lado da lareira. Pelo que me lembrava, se chamava Quíron, ou algo parecido. Ele tentava inúmeras vezes, junto com o sátiro que me trouxera aqui, adivinhar qual seria meu suposto parente olimpiano. Eu, no entanto, estava mais preocupado com o furação de perguntas e dúvidas que se formava a cada segundo em minha cabeça. Eu continuava totalmente confuso, não é todo dia que você descobre ser um semideus, e que a partir daquele momento, eu deveria passar minha vida naquele acampamento. Não tinha pertence algum comigo, nada mais do que as roupas que eu usava naquele instante. No momento em que pararam de discutir, o tal sátiro veio em minha direção, pelo visto iria me mostrar o chalé em que eu seria hospedado. Caminhei sob olhares curiosos dos outros campistas, espalhados pela minha rota, tanto na quadra de vôlei quanto nos campos de morango, seus olhos pareciam quase criar buracos em minha pele. Chegamos finalmente ao chalé mais simples dentre os outros, porém o que me parecia ser o mais confortável. O sátiro entrou sem cerimônias, mal batendo na porta, causando o susto dos campistas ali presentes. Todos me olharam da mesma forma, como se eu fosse algo... anormal. Ainda não entendia direito, já que eles também eram "como eu". Fui apresentado, e logo depois deixado sozinho com os poucos outros meio-sangues. O silêncio se implantou, e ainda alvo dos olhares, me encostei em uma parede do chalé, sentando para que não cansasse. Após alguns minutos, eles voltaram a conversar, enquanto eu apenas encarava o chão, sem saber ao certo o que fazer. Não demorou muito para que um campista se sentasse ao meu lado, ele tinha um pequeno sorriso no rosto, quase que imperceptível, o que me deixou bastante surpreso. Era o primeiro que vinha falar comigo, e o primeiro que não me olhava de uma forma estranha.

▬ Você é o novato, certo? Trouxe algumas coisas pra você.

Ele me entregou um colchão e algumas mudas de roupa, talvez do acampamento, mantendo a expressão amigável. Agradeci, decidindo que aquele metro quadrado seria meu dali em diante. Possessivo? Talvez, mas eu apenas começava a entender que deveria fazer as minhas próprias decisões antes dos outros, caso contrário eu seria "passado para trás" em poucos segundos.


A cada dia que passava, mais insuportável minha situação ficava. Por mais que tentasse controlar minha raiva, esta era totalmente visível. Dos itens que me foram dados, apenas uma calça e camiseta haviam sobrado. Não me importava com o fato de ser alvo principal de brincadeiras, por mais que fosse natural dos filhos de Hermes, isto não me incomodava nem um pouco. O verdadeiro problema era o fato de ainda continuar como um indefinido. Já que me fora dito que as reclamações eram geralmente rápidas, minhas expectativas de ser filho de um deus poderoso apenas aumentaram. Eu acordava toda manhã sentindo que eu não pertencia àquele lugar, eu não merecia estar no meio deles. Passei a conhecer um pouco mais do acampamento, como os campos de morango, estábulos, parede de escalada e até a arena. Isto não me deixou nem um pouco mais tranquilo, muito pelo contrário, vendo todos os outros semideuses conversando com seus amigos e irmãos, só deixou ainda mais claro que eu deveria ir embora. Naquela noite não consegui dormir, os mesmos pensamentos açoitavam minha mente sem parar, e após desistir de descansar, levantei afim de tomar um ar.

O bosque não era muito longe, sem saber dos perigos do tal, entrei sem medo algum, esperando apenas um passeio tranquilo. Engano meu, claro, anotaria sobre o fato de que apenas por ser um meio-sangue eu corria perigo mais tarde. Eu caminhava sem preocupações, certo de que estava sozinho, quando ouço barulhos estranho vindos de longe. Eram sussurros e o som de asas batendo, olhei para trás apenas para encontrar uma harpia vindo em minha direção. Era um monstro bem feio, tinha o corpo pequeno, e suas asas a deixavam a poucos centímetros do chão. Suas garras pareciam ser de um material diferente, e não apenas uma garra comum. Sem pensar duas vezes, desatei a correr como um louco na direção contrária, não muito certo de que conseguiria escapar. Como pensei, não fui rápido o suficiente. Não precisava olhar para saber o que havia acontecido. Senti suas unhas perfurarem meu braço como lâminas, elas com certeza não eram normais. Me contorci pois a dor era tremenda, meu antebraço sangrava pelo ferimento e a dor parecia aumentar a cada instante. Olhei uma única vez para cima, vi apenas armas a alguns campistas, sem poder identificar seus rostos. Pelo visto a harpia já havia sido derrotada, e só então a dor em meu braço pareceu diminuir um pouco. Ouvi a voz de Héracles ao meu lado, me repreendendo.

▬ Não podemos sair dos chalés depois do toque de recolher, por essa infração, amanhã terá que patrulhar o bosque. Entende??

Levantei um pouco o corpo, me sentando após o esforço, e abaixando a cabeça logo depois, frustrado. Estava totalmente nervoso, mas obviamente não falei nada ao homem parado em minha frente. Eles não haviam me falado nada sobre as regras, como esperavam que eu as seguisse?! Voltamos todos para a área segura do acampamento, entrei no chalé apenas para buscar algo para cuidar do machucado em meu braço. Deitei para descansar, amanhã seria outro longo dia, como sempre.


Levantei cedo, e por mais que isso parecesse loucura, animado para a patrulha que faria naquela tarde. Novamente durante o café da manhã, ofereci parte de minha comida aos deuses, esperando que um deles me reclamasse como filho. Tanto a manhã quanto a tarde passaram bem rápido, e quando dei por mim já estava no horário de ir para o bosque. Passei antes no chalé para pegar o único moletom que eu havia trazido, usado no primeiro dia em que cheguei aqui. Para o meu espanto, o chalé estava completamente vazio, os outros filhos de Hermes e indefinidos deveriam estar treinando ou algo parecido. Olhei em volta, para ter certeza de que ninguém veria o que eu estava prestes a fazer. Me agachei para alcançar uma adaga perto da parede, seu dono era outro indefinido, assim como eu. Devolveria mais tarde, isto era mais por precaução do que outra coisa.

Fiz meu caminho direto para o bosque, ambas as mãos no bolso do casaco, e a nova arma temporária presa em baixo da manga. Parei na entrada do local, perto das árvores, esperando por alguém que me desse as devidas instruções do trabalho. Como tinha a audição melhor do que o normal, ouvi algumas pessoas se aproximando ao longe, portanto não me surpreendi ao ver um sátiro acompanhado de dois semideuses vindo em minha direção. Os dois meio-sangue não tiraram minha atenção, no momento apenas foquei no que o terceiro estava para falar.

▬ Então suas pestes, vocês são a escória deste acampamento, e cabe à mim disciplina-los. ▬ olhei para o céu, suspirando, e esperando que ele ignorasse meu ato ▬ Vocês irão patrulhar o bosque, e espero que seja horrível. Marian, você vai para o leste. Jake, você vai para o Oeste. E você semideus ▬ o sátiro apontou para mim ▬ Vai para o norte.

Norte... era onde eu havia encontrado a harpia ontem, certo? Senti a adrenalina se espalhar pelo meu corpo. Os outros dois entraram primeiro, seguidos por mim, um pouco mais cauteloso. Estava um pouco escuro, porém eu enxergava perfeitamente, o que poderia me dar um vantagem. Apertei a adaga por baixo da manga, não sabendo ao certo quando deveria usa-la, ou se sequer precisaria utiliza-la. Apenas olhava para os lados, procurando qualquer sinal de monstros ou algo "suspeito".